saúde & bem estar
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02/10/2008 - 19:38 - Atualizado em 06/10/2008 - 16:00
Há 40 anos a ciência fez da guerra contra a doença uma prioridade. Ainda assim, combatê-la é uma tarefa penosa – como mostra a luta do vice-presidente José Alencar
Cristiane Segatto. Colaborou David Friedlander

Alencar telefonou para Ricardo Teixeira, da Confederação Brasileira de Futebol, e ele providenciou uma camisa autografada por vários jogadores. Enquanto me contava essa história, o vice-presidente chorou. “Até hoje não sei por que o doutor Brennan não cobrou. Acho que foi uma demonstração de apreço muito grande pelo meu país”, disse, enquanto enxugava o rosto num lenço branco.

O avanço da doença
Novos casos de câncer em 2008...
Revista Época
...Número de óbitos em 2008
Revista Época

A mesma atenção especial Alencar recebeu quando precisou do remédio Yondelis, importado da Espanha, em julho. Trata-se de um quimioterápico novo. Cada aplicação custa cerca de R$ 12 mil. O vice-presidente pediu a um funcionário da embaixada brasileira em Madri que comprasse o remédio. O fabricante não aceitou pagamento e ainda mandou duas cientistas a São Paulo para acompanhar as aplicações. A droga não deteve a doença. Um novo tumor apareceu.

Se nem uma pessoa com tantos recursos como o vice-presidente consegue se livrar da doença, que dizer dos outros milhares de pacientes? As histórias de sofrimento despertam um sentimento de insatisfação. Embora a ciência do câncer tenha avançado muito nas últimas quatro décadas, o conhecimento não tem levado ao surgimento de tratamentos eficazes na velocidade que a sociedade espera e necessita. Nos Estados Unidos, essa sensação desencadeou a criação de um movimento que pretende repensar o combate à doença.

Desde que o presidente americano Richard Nixon declarou guerra ao câncer, em 1971, o governo dos Estados Unidos, fundações privadas e empresas gastaram cerca de US$ 200 bilhões em busca de curas. O dinheiro produziu cerca de 1,5 milhão de artigos científicos e permitiu o surgimento de tratamentos mais poderosos e ao mesmo tempo mais toleráveis em termos de reações adversas. Os pacientes vivem mais e com maior qualidade de vida. Em inúmeros casos, porém, nem os recursos mais avançados impedem que eles morram de câncer pouco tempo depois.

Em algumas formas da doença, os índices de cura continuam muito baixos. O câncer de pulmão, provocado pelo cigarro em nove de cada dez casos, é o mais comum no mundo e um dos mais letais. Cerca de 10% dos pacientes estão vivos cinco anos depois do diagnóstico. No caso de tumores cerebrais, também há pouca coisa a oferecer. O tratamento-padrão é composto de cirurgia, radioterapia e quimioterapia. Como é difícil debelar o câncer com esses métodos, há várias alternativas em teste, como radiocirurgia, novas drogas e vacinas para estimular o sistema imune a lutar contra a doença. A maioria dos pacientes, no entanto, vive poucos meses depois do diagnóstico.

O câncer de pâncreas é outro desafio. Não existe um exame específico para detecção precoce. Por isso, apenas 7% dos casos são descobertos no início. A quimioterapia e a radioterapia não costumam surtir o efeito desejado. Há pouco conhecimento sobre os mecanismos que levam a esse tipo de câncer. Por isso, até as drogas mais modernas têm se mostrado pouco eficazes. Embora seja encorajador contar histórias de sobreviventes do câncer – e dos progressos que tornaram isso possível –, não se deve perder de vista o outro lado dessa equação: muita gente ainda morre de câncer.

Chances de sobreviver
A cada ano, ocorre uma morte a cada três novos casos de câncer no Brasil. Alguns tumores são mais agressivos e difíceis de tratar
Pulmão
1 morte
a cada 1,5 caso
Esôfago
1 morte
a cada 1,5 caso
Estômago
1 morte
a cada 1,8 caso
Leucemia
1 morte
a cada 1,8 caso
Colorretal
1 morte
a cada 2,6 casos
Pele (do tipo melanoma)
1 morte
a cada 4,3 casos
Mama
1 morte
a cada 4,5 casos
Próstata
1 morte
a cada 4,6 casos
Pele (do tipo não-melanoma)
1 morte
a cada 77,8 casos

Nos Estados Unidos, o câncer firmou-se como a primeira causa de morte, ultrapassando as doenças cardiovasculares. Neste ano, 565 mil americanos deverão ser mortos pela doença. Os casos de câncer (mais comuns em idades avançadas) aumentam porque a população está tendo a chance de envelhecer, em vez de morrer precocemente de males do coração ou de doenças infecciosas. De certa forma, essa é uma boa notícia. Não é aceitável, porém, que a mortalidade continue tão elevada mesmo com tanto investimento em pesquisa, diagnóstico e tratamento.

Em 1975, morriam de câncer 199 pessoas a cada 100 mil habitantes nos Estados Unidos. Em 2005, a taxa havia caído para 184 mortes por 100 mil. Quando analisamos especificamente alguns tipos de câncer, a situação piorou. A taxa de mortalidade por câncer de pulmão, por exemplo, subiu de 43 para 53 por 100 mil pessoas entre 1975 e 2005.

No Brasil, o câncer é a segunda causa de morte (atrás das doenças cardiovasculares). Ao contrário do que aconteceu nos Estados Unidos, a média de mortalidade por câncer (considerando-se todos os tipos) cresceu no país. Em 1979, 86 homens a cada 100 mil morriam de câncer. Em 2005, houve 108 mortes a cada 100 mil pessoas do sexo masculino (26% a mais). Entre as mulheres, o índice era de 63 por 100 mil em 1979. Subiu para 76 em 2005 (20% a mais).

O que explica os números brasileiros? A mortalidade por câncer aumenta porque há pouca atenção às medidas de prevenção, falta diagnóstico precoce e acesso a tratamentos adequados. “Há muitas falhas no sistema de saúde. Quando o cidadão não consegue fazer um exame simples na unidade mais básica, perde a chance de descobrir o câncer precocemente e se tratar”, diz Luiz Antonio Santini, diretor-geral do Instituto Nacional do Câncer. “Isso vai sair caro para o sistema e trazer um enorme prejuízo para a pessoa”.

Além de garantir o básico – diagnóstico e tratamento no caso de tumores contra os quais já existem recursos eficazes –, é possível fazer com que a ciência ande mais rápido e salve quem atualmente tem poucas esperanças? O que fazer para que o conhecimento adquirido na bancada dos laboratórios se transforme rapidamente em soluções aplicáveis à beira do leito? Para alguns críticos do funcionamento-padrão da maioria dos projetos, é preciso arriscar mais. As principais pesquisas sobre câncer são financiadas nos Estados Unidos pelo National Cancer Institute (NCI). O órgão é estruturado para agir com muita cautela. A verba da instituição para pesquisa ficou estacionada em US$ 4,8 bilhões nos últimos três anos.

“Quando o dinheiro é escasso, tudo se torna mais conservador”, afirma Curtis Harris, pesquisador do NCI. A colaboração entre os cientistas fica prejudicada porque os pesquisadores guardam seus trabalhos em segredo enquanto entram na longa fila do financiamento. Uma nova forma de fazer pesquisa está sendo proposta por grupos organizados de pacientes e empresários que apóiam a causa do câncer. Um deles é o movimento Stand Up to Cancer (SU2C). Em português, algo como Enfrente o Câncer. Trata-se de um grupo fundado por executivos de Hollywood e apoiado pelas principais empresas de mídia. No início de setembro, o grupo organizou um programa de TV para arrecadar dinheiro para pesquisa. Num único dia, chegou-se à soma de US$ 100 milhões.

Comentários
  • valéria | PB / João Pessoa | 05/10/2008 19:54
    Sua força e fé ja lhe faz vencedor!!!!!
    O senhor e um exemplo pra muita gente só o fato de não se esquiva do trabalho me causa grande admiração e fala da doença sem meias palavras com certeza essa reportagem deve fazer muita gente levanta a cabeça e segui na lutar que DEUS lhe ilumine sempre!!!!!!!!
  • eli de souza | MG / Belo Horizonte | 05/10/2008 17:18
    A Fé remove montanhas
    Parabéns Dr. josé Alencar. O senhor está vencendo porque não se entregou à doença. Peço a Deus que ilumine seus passos nesta luta. JÁ ÉS UM VENCEDOR! ADMIRO-O DEMAIS.
  • rev.horacio moreira bueno filho | RS / Caxias do Sul | 04/10/2008 21:51
    vencer o cancer
    tambem me submeti a duas cirrurgias para retirada de tumores cancerosos da bexiga e da próstata, com fé em Jesus e no meu competente médico consegui vencer. Não perca a fé em Jesus sr.Jose de Alencar

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