Gravidez e tabagismo: A combinação
imperfeita
Cláudia
Pinto Data: 2008-06-09
Está a pensar engravidar? É fumadora? Se
respondeu afirmativamente a ambas as questões, saiba que
a decisão de deixar de fumar deve acompanhar o seu
planeamento de se vir a tornar mãe. Conheça os riscos
que o tabaco pode provocar na gravidez e pense duas
vezes antes de optar por continuar a fazer do tabaco, o
companheiro permanente do seu tempo de gestação. Tem a
certeza que quer arriscar a sua saúde e a do
bebé?
Estudos realizados
recentemente não deixam margem para dúvidas. As
raparigas estão a fumar cada vez mais, ao contrário dos
rapazes. Na grande maioria dos países da Europa, as
raparigas já fumam mais que os rapazes e começam a
fumar, cada vez mais novas.
Esta realidade
serviu de ponto de partida para a conversa que tivemos
com a Dr.ª Eduarda Pestana, pneumologista do Hospital
Pulido Valente (HPV) e responsável pela consulta de tabagismo deste
hospital. “As consequências desta realidade serão
visíveis daqui a 20 ou 30 anos. A tendência é para que
se registe um aumento das doenças relacionadas com o
tabaco, o que irá acarretar graves problemas de saúde
nas mulheres”, diz-nos.
Talvez por isso, este
ano, o Dia Mundial Sem Tabaco, comemorado no próximo dia
31 de Maio, tenha como destinatários principais, os
jovens. “Juventude livre de tabaco” é a temática
principal deste dia e expressa a preocupação da
Organização Mundial de Saúde em estabelecer estratégias
de acção para enfrentar este problema de saúde pública.
O Jornal do Centro de Saúde pega neste tema e
adapta-o à temática deste mês da rubrica saúde da
mulher: “grávidas livres de tabaco”. Explicamos-lhe
porquê ao longo deste artigo.
Tabaco e
gravidez: risco
eminente
Todos nós sabemos que o tabaco e a
gravidez não constituem a combinação perfeita. Os
riscos são mais do que conhecidos. “Está provado que o
tabaco provoca danos muito significativos, nomeadamente,
no que diz respeito à incidência de abortos
espontâneos, partos pré-termo e a inúmeras complicações
durante o parto, desde
hemorragias, descolamento da placenta, ruptura prematura de
membranas, entre outros. Por outro lado, os bebés de
mães fumadoras nascem com bastante menos peso”, alerta Eduarda
Pestana.
A pneumologista refere ainda a maior
frequência de síndrome de morte súbita infantil que ocorre em
recém-nascidos. “Há muitas complicações antes e durante
o parto que devem justificar a decisão de deixar de
fumar”, acrescenta. A vontade de deixar o tabaco deve
ser prolongada no tempo. “O problema é que as grávidas
que deixam de fumar colocam o problema como temporário”,
explica Eduarda Pestana.
Se está a pensar
engravidar, deve suspender o vício de fumar,
prolongando essa decisão a longo prazo. “Todas as
substâncias do tabaco passam através do leite materno, o
que significa que as mães não devem fumar durante o
período em que estão a dar de mamar”. Se está grávida e
pensa que fumar dois a três cigarros não tem mal nem
prejudica tanto a sua saúde e a do seu futuro filho,
saiba que “fumar menos cigarros faz tanto mal como fumar
muito”, explica a pneumologista do HPV.
Na
verdade, a nicotina é uma
substância que apresenta inúmeros problemas vasculares e
ao nível da placenta. “Se a mãe continua a fumar, o bebé
também fuma, e o mesmo se passa quando nos referimos à
exposição ao fumo passivo”. Mesmo na
situação em que a mãe não é fumadora activa, há estudos
que mostram que os constituintes do tabaco dos fumadores
ao seu redor passam pelo cordão umbilical e
são prejudiciais ao bebé.
Eduarda Pestana vai
ainda mais longe nas recomendações que faz às futuras
mães. “O ideal é que a grávida esteja num ambiente completamente
seguro e sem fumo. Seria exemplar se o companheiro
deixasse também de fumar, porque ambos vão ter um bebé
em casa e o seu ambiente deve ser o mais seguro
possível. O bebé é completamente indefeso e deve ser
protegido”.
Tratamentos possíveis
Só 30% das mulheres é que deixa, efectivamente,
de fumar no início da gravidez. “A maior parte reduz o
número de cigarros e há
um grupo que deixa de fumar mais tardiamente”, adianta a
pneumologista. As percentagens não ficam por aqui pois
sabe-se que “cerca de 80% das mulheres recaem depois do
parto e 70% nas primeiras seis semanas.
Se
estão a amamentar, ainda se aguentam mais algum tempo
porque sabem do efeito nocivo que o tabaco tem
ao passar através do leite materno para o bebé. No
entanto, passado o período de amamentação, acabam por
recair”. Eduarda Pestana define esta situação como
“muito preocupante”. Apesar desta evidência, a
responsável da consulta de tabagismo do HPV
afirma que assiste a poucas grávidas, “o que não deixa
de ser curioso porque as futuras mães não têm de ficar
na lista de espera e têm acesso a uma
consulta imediatamente se o requisitarem”.
Os candidatos às consultas de cessação tabágica
do HPV devem ser referenciados pelo médico que os
acompanhe. “O ideal é que a pessoa esteja motivada para
deixar de fumar pois esta consulta é especializada
e direccionada para a cessação tabágica”, conclui
Eduarda Pestana.
Riscos associados ao
tabaco na gravidez
- Infertilidade. O tabaco
reduz os níveis de estrogénio;
-
Menopausa precoce,
anomalias menstruais;
- A pílula associa-se a uma
maior ocorrência de tromboses. As mulheres que tomam a
pílula, não devem fumar. A pílula e o tabaco
“conjugam” muito mal;
- Os bebés sofrem as
consequências do fumo passivo. Sabe-se também que os
jovens que fumam, regra geral, são filhos de
pais fumadores. O modelo de base familiar é muito
importante;
- Vertente estética: na verdade, as
mulheres que fumam têm mais rugas, a pele mais baça, já para
não falar dos dentes e dedos amarelos.
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