São Paulo, segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Fumo ajudou a eleger 13 congressistas

Indústria do setor distribuiu R$ 1,7 milhão para mais de cem candidatos na eleição de 2006 contra R$ 255 mil da eleição anterior

Sindicato das empresas diz acompanhar tramitação de projetos de interesse do setor no Congresso Nacional, mas nega lobby

Alex Almeida - 11.set.09/Folha Imagem
Fumante em SP; empresas ligadas ao fumo ajudaram a eleger 13 congressistas

MARIA CLARA CABRAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A atual ofensiva contra o tabagismo enfrenta, no campo de batalha da legislação, o lobby da indústria do fumo. Só na última eleição, em 2006, a indústria do fumo aplicou R$ 1,7 milhão em campanhas de candidatos.
E o interesse das empresas do fumo na política aumentou consideravelmente se comparado com a eleição anterior, quando as empresas fabricantes de cigarros ou produtoras de fumo doaram apenas cerca de R$ 255 mil.
Do montante doado no último pleito, cerca de R$ 750 mil ajudaram a eleger congressistas. Entre os 102 candidatos a cargos federais -deputados e senadores- que receberam doações, 13 conseguiram chegar ao Congresso.
Lá eles poderão ter que analisar mais de 20 projetos que tramitam sobre o assunto.
As propostas tentam, por exemplo, proibir o motorista de fumar no carro ou ainda proibir o cigarro em locais onde se pratica esportes.
Um outro texto, também de âmbito nacional e que está pronto para ser votado no plenário da Câmara, assemelha-se à proposta do governador de São Paulo, José Serra, de acabar com todos os fumódromos em lugares fechados.

Sem prioridade
O deputado Cândido Vacarezza (PT-SP), que recebeu R$ 60 mil de uma empresa do setor, afirmou que, quando o assunto chegar na pauta da Câmara, não terá nenhuma objeção em votar contra o interesse de seu doador.
Ele disse que é favorável à proibição do cigarro em locais fechados, mas que hoje os deputados têm assuntos mais importantes para discutir.
Segundo Vacarezza, o dinheiro foi doado porque o dono da empresa é seu amigo de infância, não por qualquer tipo de relação com o setor.
Já o deputado Sérgio Moraes (PTB-RS), que recebeu cerca de R$ 72 mil em doações, admite ser, na Câmara, um dos maiores defensores da produção do fumo no país. Ele classifica os fumódromos como bons, "porque permitem o fumo àqueles que têm vontade de fumar".
O parlamentar não fuma, mas disse defender os interesses do setor, pois a sua região -Santa Cruz do Sul (RS), a 155 km de Porto Alegre, de onde Moraes já foi prefeito- é a maior produtora do país.
Segundo dados do Sindifumo (Sindicato da Indústria do Fumo), cerca de 190 mil famílias vivem da produção do fumo na região. Esse é o argumento do deputado. "Não podemos simplesmente acabar com o emprego. E acredito que acabar com os fumódromos pode prejudicar a nossa produção."
Outro deputado da região, Luis Carlos Heinze (PTB-RS), foi o parlamentar que mais recebeu doação de campanha do setor. Foram R$ 120 mil.
Ele admite que pediu dinheiro para as empresas, já que é um grande defensor da produção de fumo na região. "Não ajudo o setor porque vão ajudar minha campanha, mas é pela atividade econômica que defendo. Não vou defender nunca coisas que prejudiquem os produtores", disse.
Em resposta a um projeto que limitava a área de produção do fumo, ele foi autor de um substitutivo na Câmara que autorizava o cultivo do produto em todo o país. O seu texto foi aprovado e, conseqüentemente, o projeto que tentava limitar a produção foi arquivado no ano passado.

Empresas
As empresas que mais doaram na última eleição foram a beneficiadora de fumo Alliance One (R$ 555 mil) e a fabricante de cigarro Sudamax (R$ 522,5 mil). As duas não receberam autorização da Anvisa para funcionar neste ano.
Representantes da Alliance não foram encontrados. Já o advogado da Sudamax disse que a empresa teve que demitir cerca de 500 funcionários, pois a liminar de funcionamento da empresa encontra-se suspensa.
Se comparado com um setor mais forte e maior, o das bebidas, que colocou quase R$ 2 milhões na campanha de deputados eleitos, a participação da indústria do fumo na política não é tão forte.
O presidente do Sindifumo, Iro Schunke, no entanto, admite que o setor acompanha o andamento de projetos de interesse no Congresso.
Segundo ele, a doação de campanha é natural. "Não temos uma bancada do fumo, assim como em outros setores. O que temos são alguns deputados que conhecem a nossa economia e sabem da importância do fumo, por isso não há problema nenhum em fazer doações", afirmou.


Texto Anterior: Fernando Barbosa Lima (1933-2008): Criatividade do tempo preto-e-branco
Próximo Texto: Lobby pró-fumo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.