O cerco à indústria do fumo aperta no
País. A pressão vem desde o plantio, com o
Ministério Público do Trabalho (MPT) apontando
irregularidades constantes, incluindo trabalho
infantil nas lavouras, até as restrições ao
consumo, sob articulação do Ministério da Saúde,
que quer proibir o fumo em locais fechados.
Ao mesmo tempo, o cigarro nunca deu
tanto lucro. Em 2007, a Souza Cruz, que sozinha
domina 60,2% do mercado nacional, faturou R$ 9,9
bilhões e lucrou R$ 908,1 milhões, batendo
recordes de produção e exportação.
A
briga promete ser boa e envolve deputados
financiados pelo tabaco, empresários poderosos,
especialistas em saúde e ex-fumantes
inconformados. O tema é polêmico e as medidas
adotadas podem ser decisivas para o País nos
próximos anos.
O Brasil já é o segundo
maior produtor do mundo, atrás somente da China.
“É uma indústria que não vale a pena.
É
muito rentável em função da dependência causada
pelo produto, mas não traz nenhum benefício, nem
para o consumidor, nem para a sociedade”,
analisa Tânia Cavalcante, chefe da Divisão de
Controle de Tabagismo do Instituto Nacional do
Câncer, do Ministério da Saúde.
Como
outras empresas que atuam no País, a Souza Cruz
pertence a um grupo estrangeiro, a British
Association of Tobacco (BAT), dona de 75,3% das
ações. Procurado pela Folha Universal, Dante
Letti, presidente da Souza Cruz, não quis se
pronunciar após saber quais temas seriam
abordados. Como seus antecessores, ele deve
seguir carreira na BAT após comandar a filial
brasileira.
“Nunca foi feito um
levantamento preciso de quanto o Estado gasta
com as doenças relacionadas ao fumo. Há custos
difíceis de computar como os de aposentadorias
antecipadas”, estima Tânia. “O que temos certeza
é que: o que é gerado com empregos e impostos
não compensa. Nada disso justifica a sociedade
pagar para uma minoria lucrar”, defende.
Ela aponta problemas desde o cultivo,
com impactos negativos na saúde do trabalhador.
O MPT reclama irregularidades na produção em
Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, que
produzem 96% do fumo nacional – os outros 4%
ficam com Alagoas e Bahia. Nos últimos dois
meses foram abertas 17 ações civis públicas
contra a indústria, baseadas na presença
constante de crianças nas lavouras e na maneira
como as relações de trabalho são estabelecidas.
“Há utilização de mão-de-obra infantil e
eles permitem que as crianças tenham contato com
agrotóxicos. É gravíssimo”, acusa o procurador
Veloir Dirceu Fürst, do Núcleo da Infância e
Adolescência do MPT
gaúcho.