Por Alex
Sander Alcântara
Agência FAPESP – Uma pesquisa realizada na Escola Nacional
de Saúde Pública (ENSP) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), avaliou
em que medida o tabaco é causa importante de perda de qualidade de
vida na população. O estudo constatou que 7% da carga de doença é
atribuível ao hábito de fumar.
O estudo, publicado na revista Clinics, aplicou o Daly
(Disability-Adjusted Life Years), um indicador que mede
simultaneamente a mortalidade e a morbidade, avaliando os anos de
vida perdidos por mortes prematuras com ajuste de incapacidade.
Entre a população com mais de 30 anos, a proporção de Daly
atribuível ao tabaco ultrapassa 13% em homens e 7% em mulheres.
De acordo com Andreia Ferreira Oliveira, uma das autoras do
artigo, o trabalho teve o objetivo de estimar a carga de doença
atribuível ao tabagismo no Rio de Janeiro, no ano 2000. A partir de
estimativas de prevalências de fumantes e riscos relativos de morte,
foi calculada a fração respondida pelo tabaco por causa, idade e
sexo.
“O conhecimento da carga global de doença atribuível ao tabagismo
é importante para que as iniciativas dirigidas ao controle do tabaco
se multipliquem e se consolidem, de modo que venham a se transformar
em políticas públicas articuladas e permanentes de promoção da
saúde”, disse à Agência FAPESP.
Segundo a pesquisadora, as informações sobre mortalidade são
insuficientes para dar um panorama da qualidade de vida. Para
superar essa limitação, o indicador Daly envolve também dados sobre
a morbidade. Ele permite ainda avaliar a gravidade de doenças que
são altamente incapacitantes, mas nem sempre letais.
“A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), a doença isquêmica
do coração, a doença cerebrovascular e o câncer de traquéia,
brônquios e pulmões foram responsáveis por, respectivamente, 32,2%,
15,7%, 13,2% e 11,1% do total estimado de Daly, totalizando 72,2% da
carga de doença atribuível ao fumo”, afirmou.
Os resultados indicaram que as doenças relacionadas aos cânceres
e às doenças respiratórias crônicas apresentam alta prevalência e
riscos de morte. “Concluímos que é imprescindível que medidas de
prevenção e controle do hábito tabágico sejam efetivamente
implementadas”, disse a pesquisadora, que trabalha na Secretaria
Municipal de Saúde do Rio de Janeiro.
Entre as principais patologias associadas à diminuição da
qualidade de vida, as doenças cardiovasculares foram as mais
significativas, com destaque para a doença isquêmica do coração
(20,4%), na população acima de 30 anos. Mas, de acordo com o estudo,
essa proporção não aumenta de acordo com a idade.
“Evidenciamos que a obstrução aérea crônica e as doenças
isquêmica do coração e cerebrovasculares foram responsáveis por 61%
do total de Daly na população de 30 anos e mais”, afirmou Andreia.
Estratégias preventivas
O estudo constatou que os homens apresentam cargas atribuíveis
maiores em relação às mulheres. O maior número se explica, segundo a
pesquisadora da Fiocruz, não só pela prevalência maior do fumo, mas
também “porque essas doenças acometem mais o homem”.
A pesquisa estabelece também comparações entre países
desenvolvidos e em desenvolvimento. “Assim como no Brasil, o tabaco
é causa importante de anos de vida perdidos prematuramente ou por
incapacidades nos países desenvolvidos. Mas aqui a carga atribuível
ao tabaco é maior se comparada aos países mais ricos”, apontou.
“O hábito tabágico se inicia ainda na adolescência. Por conta
disso, estratégias preventivas maciças devem ser veiculadas pela
mídia, por exemplo, para evitar que milhões de jovens iniciem esse
hábito ainda precocemente e, com isso, venham a se tornar
dependentes dessa droga”, disse Andreia.
Apesar de ter focado o Rio de Janeiro, o trabalho aponta que o
padrão de morbidade observado no estado é semelhante ao da região
Sudeste e que essa relação não se modificou entre 1998 e 2000.
O estudo apresenta algumas limitações, segundo a autora. “A mais
importante se refere à utilização de prevalências de exposição
atuais, não levando em consideração o período de latência entre a
exposição ao tabaco e o aparecimento das doenças. Não foi uma
decisão inédita, pois tem sido apontada, consistentemente, por
outros autores”, disse Andreia, que assina o artigo com Joaquim
Gonçalves Valente e Iuri Costa Leite, também da ENSP.
De acordo com Andreia, o estudo pode prosseguir tentando estimar
a prevalência do fumo no interior por meio de indicadores
socioeconômicos. “Assim, teríamos uma estimativa mais próxima da
realidade desses locais e com estratégias preventivas bem
localizadas”, destacou.
Para ler o artigo The disease burden attributable to smoking
in the state of Rio de Janeiro, Brazil in 2000, de Andreia
Ferreira Oliveira e outros, disponível na biblioteca on-line SciELO
(Bireme/FAPESP), clique aqui.