Realidade no resto do país não é
diferente: somente 10% das cidades brasileiras têm
tratamento gratuito
Patricia Giudice
Quem precisa parar de fumar e busca um
tratamento gratuito em Belo Horizonte infelizmente não
tem muito êxito. Isso porque dos 146 postos de saúde da
rede municipal, apenas dois oferecem efetivamente o
acompanhamento aos fumantes previsto no Programa
Nacional de Controle do Tabagismo, do Ministério da
Saúde. A prefeitura da capital deu o passo
mais importante, que foi aderir ao programa, mas ainda
não conseguiu avançar a ponto de atender todos que
precisam. A última pesquisa feita pelo ministério, por
meio do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco para
Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel),
apontou que 19,3% da população belo-horizontina é
fumante, ou seja, mais de 400 mil pessoas.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, 18
postos foram capacitados para oferecer o tratamento
gratuito. Desses, apenas cinco começaram a realizar o
atendimento e as reuniões previstas, mesmo assim, alguns
de forma precária.
De acordo com apurações
feitas na última semana pela reportagem de O
TEMPO, o programa foi suspenso no centro de saúde
do bairro Providência e interrompido nos postos do
Ribeiro de Abreu - porque a médica responsável está de
férias - e do bairro Pilar, no qual o grupo atendido
aguarda a chegada da medicação para que as reuniões
recomecem. Apenas no posto Tia Amância, que fica na
Regional Centro-Sul, e no Cícero Idelfonso, na região
Oeste, o tratamento está ocorrendo. Dados do
Instituto Nacional do Câncer (Inca) mostram que a
realidade da capital mineira reflete o mesmo descaso
observado em todo o país. No Brasil, são 465 municípios
cadastrados para oferecer o tratamento, em 811 unidades.
O universo significa menos de 10% das 5.552 cidades
brasileiras. O apoio gratuito ao fumante ocorre desde
2002. Em 2004, a partir da portaria nº 1.035 do
Ministério da Saúde, o programa foi ampliado para toda a
rede de atenção básica e de média complexidade pelo SUS.
"Antes ficava restrito aos hospitais
especializados. Através do programa, qualquer município
pode se habilitar a tratar os fumantes", afirmou a
técnica Cleide Regina da Silva Carvalho, da Divisão de
Controle do Tabagismo do Inca. Para isso, a prefeitura
precisa capacitar os profissionais de saúde, o que é
feito pelas secretarias de Estado, proibir o fumo nos
ambientes de saúde e ter locais para os atendimentos em
grupo e individual. Para o presidente do Conselho
Nacional dos Secretários Municipais de Saúde, Antônio
Carlos Figueiredo Nardi, o principal obstáculo para a
implantação do programa nacional está nos recursos
humanos. Segundo Nardi, o sucesso do tratamento depende,
além do paciente, de mão de obra do município. Ele
estima que a implantação do programa em apenas um posto
de saúde custe entre R$ 8.000 e R$ 10 mil mensais para o
SUS. "Não tenho a menor dúvida de que todos os
malefícios causados pelo cigarro são muito mais onerosos
do que o tratamento.
BH deve ter novas equipes no segundo
semestre deste ano
No segundo semestre, a Secretaria
Municipal de Saúde deve rever as 18 equipes que foram
montadas e qualificadas para oferecer o tratamento
antitabagista pelo SUS em Belo Horizonte. A informação
foi dada pela coordenadora de Atenção à Saúde do Adulto
e do Idoso, Maria Cecília Rajão. "Combater o tabagismo é
uma prioridade. Vivemos momentos difíceis que acabaram
atrapalhando o desenvolvimento do programa, como o
combate à rubéola e à dengue. Mas estamos prontos para
rever isso, buscar as equipes incompletas e organizar
novo treinamento."
Frederico de
Campos, 54, chegou ao centro de saúde Tia Amância, no
bairro Coração de Jesus, para tratar a hipertensão. Mas
atrás do problema dele está o consumo de mais de um maço
de cigarros por dia. Na primeira consulta, ele foi mais
do que aconselhado a parar de fumar. "A médica disse que
eu tenho que parar de qualquer jeito, e ontem", brincou.
Ele ainda não conseguiu atingir a meta e contou que já
teve doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e infarto
por causa do cigarro. (PG)
Quem consegue se tratar pelo SUS
agradece pela vida nova
Já são seis meses sem fumar e a
agente sanitária Maria de Jesus Gonçalves, 47, está
firme na decisão que tomou. Mesmo sendo restrito, o
tratamento já existente nos postos de saúde da capital é
capaz de mudar vidas, como mudou a dela. Para que o
apoio fosse implantado no centro de saúde Tia Amância,
que fica no bairro Coração de Jesus, região Centro-Sul
da cidade, os próprios funcionários fumantes serviram de
“cobaias”. Maria de Jesus era uma delas. Após
largar o vício, a maior alegria que tem é poder abraçar
o filho de 14 anos. “Antes, quando eu ia abraçá-lo, ele
reclamava do cheiro de cigarro. Não gostava nem de ir
comprar para mim”, afirmou. Maria fumava desde os 18
anos e o resultado disso foi um cisto em uma das mamas
que não parou de crescer nem com cirurgias. “Se não
fosse o tratamento, estaria fumando até hoje”, disse.
Para compensar o dinheiro perdido, Maria de Jesus abriu
uma poupança em que deposita mensalmente o valor que
estaria gastando com o cigarro. “Eram R$ 2,60 todos os
dias e mais ainda no fim de semana.
Em um ano
terei cerca de R$ 1.200, que vou juntar para comprar
minha casa.” A médica Valéria Bossi Simão é quem
acompanha os pacientes do posto. Segundo ela, somente na
área de atendimento do centro de saúde, que abrange seis
bairros, a estimativa é de que existam 3.000 fumantes
querendo largar o vício. “Conseguimos que o posto de
saúde ficasse 100% livre do tabaco e começamos a
implantar o programa com os funcionários que fumavam
(5). Como não são todos os centros que têm, infelizmente
não temos como atender a cidade inteira”, informou.
Valéria alerta que, apesar do tratamento não ser
oferecido em toda a cidade, empresas podem implantar e
incentivar que seus funcionários parem de fumar. “Quem
fuma adoece mais facilmente e trabalha menos por parar a
tarefa para fumar”, afirmou. O tratamento
oferecido pelo SUS consiste em sessões de terapia
cognitivo-comportamental, consultas médicas e, se
necessário, são prescritos medicamentos entregues
gratuitamente. A terapia é feita em grupos de 10 a 15
pessoas e tem duração de um ano. Os remédios oferecidos
pelo SUS são gomas, adesivos transdérmicos e bupropiona,
que injetam nicotina no organismo.
(PG)
Onde é oferecido o tratamento
antitabagismo em BH
Hospital Belo
Horizonte Curso “Como parar de fumar”, com três dias
de duração, no horário de 19h30 às 21h. Inscrições
custam R$ 30 e começam amanhã pelo (31)
3444-5750.
Associação para a Prevenção do Abuso
de Drogas - Abraço Tratamento de três meses custa R$ 450
divididos em três parcelas. Interessado deve ir à
avenida do Contorno, 4.777, Serra. Próximo grupo começa
em junho.
Unimed-BH Plano de saúde oferece
tratamento através do Programa de Cessação do Tabagismo.
Quem for cliente Unimed deve ligar no 0800 303003 e
agendar.
Credeq Tratamento de seis meses. É
preciso fazer avaliação socio econômica para saber o
valor a ser pago. Informações pelo (31)
3082-2726.