São Paulo, quinta-feira, 12 de julho de 2007

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Bush é acusado de pôr política à frente da saúde pública

Ex-autoridade do setor diz que Casa Branca omitiu dados sobre temas como fumo passivo e contracepção por razões partidárias

Segundo ex-cirurgião-geral, governo lhe ordenou citar nome de Bush três vezes em cada página de discursos que proferia sobre saúde

GARDINER HARRIS
DO "NEW YORK TIMES"

O ex-cirurgião-geral dos Estados Unidos Richard H. Carmona disse a uma comissão do Congresso que altos membros do governo de George W. Bush tentaram repetidamente enfraquecer ou suprimir importantes relatórios de saúde pública por considerações políticas.
O depoimento de Carmona, na terça-feira, aumenta o desconforto político do presidente americano em um momento em que sua popularidade bate recordes negativos e cresce a pressão para que ele retire as tropas dos EUA do Iraque.
Criado em 1870, o escritório do cirurgião-geral tem a missão de preparar relatórios para educar o público americano sobre assuntos de saúde e orientar a política da Casa Branca para o setor.
O governo, disse Carmona, não permitia que ele falasse ou fizesse relatórios sobre células-tronco embrionárias, contracepção de emergência, educação sexual e outros temas de saúde mental e prisional. Altos funcionários adiaram e diluíram por anos um importante relatório sobre fumo passivo, disse ele. Divulgado em 2006, o relatório concluiu que até uma breve exposição ao cigarro pode causar dano imediato.

Bush três vezes
Carmona afirmou ter recebido ordens para citar o presidente Bush três vezes em cada página de seus discursos. Também disse que foi orientado a fazer discursos de apoio a candidatos republicanos e a comparecer a eventos políticos.
Carmona se recusou a dar os nomes das pessoas do governo que o instruíram a colocar considerações políticas antes das científicas. Ele disse, porém, que entre elas havia secretários-assistentes de Saúde e Serviços Humanos e funcionários de outros departamentos.
Bill Hall, porta-voz do Departamento de Saúde e Serviços Humanos, disse que o governo discorda das declarações de Carmona. "A posição do governo sempre foi a de basear a saúde pública em sólidas informações científicas", disse Hall.
Emily Lawrimore, porta-voz da Casa Branca, disse que o cirurgião-geral "é a principal voz na área de saúde para todos os americanos". "É uma decepção para nós se ele falhou em usar essa posição plenamente na defesa das políticas que considerava de interesse da nação."
Carmona, 57, foi cirurgião-geral entre 2002 e 2006. Ele faz parte de uma lista crescente de funcionários do passado e do presente a acusar o governo de interferir politicamente em agências de saúde e ciência conhecidas pelo apartidarismo.
Seu depoimento ocorreu na véspera da ratificação no Senado de seu sucessor, James W. Holsinger Jr, marcada para hoje. Não será um processo fácil. Dois membros da Comissão de Saúde do Senado já disseram ser contra a nomeação por causa de um relatório que Holsinger escreveu em 1991, com críticas às relações homossexuais.
A Associação Americana de Saúde Pública também manifestou oposição à nomeação.


Com agências internacionais


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